Após dias de protesto em São Paulo, a mobilização social, que está sendo considerada a mais ampla desde o impeachment de Collor em 1992, se espalhou pelo país, levando Dilma Rousseff a se pronunciar pela primeira vez.
Centenas de milhares de pessoas foram às ruas em diversas cidades do Brasil nesta segunda-feira (17/06) para manifestar sua insatisfação, entre outras coisas, com o aumento da tarifa de transporte público apesar da infraestrutura defasada e com os gastos com a preparação para a Copa do Mundo de futebol que o país sediará daqui a um ano. Só no Rio de Janeiro, cerca de cem mil pessoas se mobilizaram na maior manifestação do país.
A lista de motivos das contestações se ampliou desde a semana passada, quando manifestantes em São Paulo deram início aos protestos contra o aumento da tarifa e a falta de qualidade do transporte público. Além das despesas dos governos com o Mundial de 2014, consideradas excessivas, as contestações se voltam também contra a corrupção e exigem mais investimentos em saúde e educação, além de criticar a PEC 37, dispositivo legal que anula o poder de investigação do Ministério Público.
Os protestos começaram pacíficos, mas em algumas cidades houve confrontos com a polícia, como no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde grupos de manifestantes se dirigiram contra sedes de governo. Apesar de casos isolados de ocupação e depredamento de veículos, a maioria das pessoas protestou pacificamente.
No Rio de Janeiro, a manifestação começou na Avenida Rio Branco, na zona central, ainda de forma pacífica. Por volta das 20h, um grupo se concentrou em frente à Assembleia Legislativa do Estado, arrombou portas e janelas e entrou no prédio. O grupo foi contido por bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta, usados pelos policiais que faziam a proteção do edifício.
Em São Paulo, a quinta manifestação em pouco mais de uma semana começou no final da tarde no Largo da Batata, no bairro de Pinheiros (Zona Oeste). De lá, seguiu por três rotas distintas. No decorrer da noite, alguns manifestantes tentaram entrar no Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo estadual liderado por Geraldo Alckmin. O protesto terminou em confronto com a polícia, assim como em outras cidades, como Porto Alegre e Belo Horizonte.
Na manhã da segunda-feira, o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, havia se reunido com líderes do Movimento Passe Livre (MPL), representantes do Ministério Público (MP) e da Defensoria Pública do Estado, e também com comandantes das polícias civil e militar. Após o encontro, que pretendia definir regras para a passeata da noite, o secretário garantiu que a polícia não usaria balas de borracha, informação confirmada por Alckmin.
As manifestações desta segunda levaram a presidente Dilma Rousseff a se pronunciar sobre o caso pela primeira vez desde o início dos protestos na semana passada. Em nota, a presidente afirmou que as manifestações pacíficas fazem parte da democracia. “É próprio dos jovens se manifestar”, disse.
Congresso Nacional ocupado
Em Brasília, símbolo da política nacional, milhares de manifestantes marcharam desde o Museu Nacional até a Praça dos Três Poderes. Um grupo de cinco mil pessoas tentou invadir o Congresso Nacional, sendo contido em um primeiro momento. Mas os seguranças do Congresso e os policiais não conseguiram impedir que as pessoas ocupassem a área próxima às cúpulas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Depois, um grupo chegou à chapelaria do edifício, local que parlamentares e funcionários usam para entrar no prédio.
Na tentativa de impedir a entrada de manifestantes nos salões do Congresso, a polícia usou spray de pimenta. O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, disse, em nota, que as revindicações são legítimas, desde que fosse mantida a ordem. Ele acrescentou no texto que as manifestações fazem parte de um ambiente democrático e que a casa continuará “aberta às vozes das ruas e recolherá todos os sentimentos das manifestações.” O local foi desocupado apenas por volta das 23 horas.
Protestos no Mineirão
Em Belo Horizonte, os protestos começaram mais cedo, antes do jogo entre Nigéria e Taiti pela Copa das Confederações, considerada um ensaio geral do Brasil um ano antes da Copa. Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais, cerca de 20 mil pessoas protestaram contra gastos públicos com grandes megaeventos esportivos, corrupção e a violência registrada na última semana nas manifestações em São Paulo. O grupo também pediu mais investimentos em saúde e educação.
A Justiça do Estado de Minas Gerais chegou a proibir atos públicos nas vias próximas ao estádio, mas isso não impediu que a passeata acontecesse.
Forças policiais acompanharam o trajeto de cerca de 3 km do centro de Belo Horizonte em direção ao estádio Mineirão, onde aconteceu o jogo. A marcha chegou a ser interrompida, houve disparos de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Os manifestantes colocaram fogo em objetos em áreas próximas ao estádio.
Durante a mobilização no Rio de Janeiro, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse que o governo não irá tolerar manifestações que impeçam a realização de jogos do torneio de futebol. “Quem achar que pode impedir a realização desses eventos enfrentará a determinação do governo de impedir. As manifestações serão toleradas dentro desse limite”, disse o ministro.
As manifestações deverão continuar nesta terça-feira. Em São Paulo, um novo protesto foi convocado para a tarde.
- Autoria: Ericka de Sá, de Brasília
- Edição: Renate Krieger
- Fonte: http://www.dw.de
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