Pesquisa feita pela consultoria Robert Half apontou um dado um tanto quanto alarmante: cerca de 40% dos profissionais brasileiros sofrem com o estresse. O levantamento foi feito com base nas respostas de 1775 diretores de Recursos Humanos de 12 países, sendo 100 do Brasil.

De acordo com a psicóloga Gabriela Cosendey, o estresse é uma reação do organismo a estímulos físicos e psíquicos. Ele está relacionado a descargas de adrenalina que, em níveis normais, nos dão vigor e energia para realizar coisas. Quando em excesso, entramos em um estado de alerta que leva à exaustão. “E o que faz o excesso ocorrer é a interpretação que se dá para as situações, ou seja, o que é mais estressante para uns pode não ser para outros. O ambiente de trabalho é um local repleto de pessoas que pensam de forma diferente e que precisam, apesar disso, conviver e cumprir seus objetivos”, analisa a profissional.

Mas a que se deve todo esse cenário? Segundo Sílvio Celestino, sócio-fundador da Alliance Coaching, muitos fatores que contribuem para o estresse no trabalho são ligados à economia. “Em primeiro lugar, assim como ocorre em muitos lugares do mundo, o profissional brasileiro não possui alfabetização financeira. Como consequência, contrai dívidas e utiliza todo seu salário para manter os gastos rotineiros da casa”, explica o especialista. O profissional brasileiro não planeja seu padrão de vida. Com isso possui carro, casa e filhos, mas não tem renda suficiente para manter os custos relacionados a eles. Aí começa uma bola de neve.

Essa obrigatoriedade de pagar parcelas acaba gerando uma pressão para manter o seu emprego, para fazer frente ao seu padrão de vida, o que é um forte motivo de estresse. “Além disso, a inflação faz com que seu dinheiro valha cada vez menos e dificulta paulatinamente sua capacidade de dar conta de suas responsabilidades com a vida pessoal”, ressalta Silvio.

Outro ponto que leva ao estresse é a pressão sofrida. Silvio diz que o trabalhador tem um custo alto para a empresa e isso faz com que as companhias trabalhem com quadros enxutos, sobrecarregando o profissional que está empregado. “Esse mesmo problema é agravado pela baixa escolaridade da mão de obra. Some-se a tudo isso a falta de infraestrutura, que faz o profissional se desgastar no deslocamento para o trabalho, e a violência altíssima no Brasil (temos mais homicídios por ano que países em guerra)”, aponta o consultor.

Já sabemos quais são as principais causas do estresse. E agora, como podemos identificá-lo? Silvio Celestino explica que o estresse é evidenciado, principalmente, pela qualidade dos diálogos. “Pessoas que são ríspidas o tempo todo, que explodem com frequência, são fortes indicativos de estresse. Na outra ponta, pessoas introvertidas que estão mais silenciosas que de costume também são evidências de estresse no trabalho. Quanto maior a qualidade dos diálogos menor o estresse”, avalia.

O especialista diz que é necessário fazer todos os dias algo para driblar o estresse. De acordo com Sílvio, existem muitos exercícios que uma pessoa pode fazer para reduzi-lo, entretanto o mais recomendado é que tenha orientação e apoio de profissionais especializados, como coaches, para momentos de adversidades; psicólogos, quando o estresse já afeta sua resposta emocional; e médicos, quando o estresse está tão instalado que começa a produzir doenças físicas. “Todos os dias o profissional deve fazer a chamada oscilação. Isto é, se tem um trabalho muito mental, deve acrescentar exercícios físicos em seu momento de descanso. Por outro lado, se é uma pessoa que depende muito de seu físico no trabalho, como um carteiro, por exemplo, deve acrescentar no momento de repouso atividades que utilizem mais a cabeça, como a leitura. Essa oscilação é que possibilita o equilíbrio e, consequentemente, aumenta a capacidade de lidar com o estresse”, ensina.

Então, o principal conselho é não usar a válvula de escape só quando o estresse chegar a um determinado limite. Tem que ser um pouco a cada dia. Para ajudar, exponha-se o mínimo possível a líderes explosivos, mal educados e de má índole. Meditação por 20 minutos também é uma prática altamente recomendável. “Não deixe o estresse chegar ao seu limite, pois o mais importante em sua vida é você! É melhor deixar um emprego que o está deixando doente, do que acabar adoecendo de fato e comprometer sua família”, aconselha Silvio.

Algumas atividades no próprio trabalho podem amenizar o estresse do cotidiano. Pare de vez em quando, vá tomar um café e esticar as pernas. Faz bem para o corpo e para a mente. 

Veja outras dicas do consultor Silvio Celestino e da psicóloga Gabriela Cosendey:

  •  Incentive as pessoas a ter qualidade nos diálogos dentro da empresa

“Fofocas, menções depreciativas, palavrão e conversa em alta voz são fatores que podem ser amenizados para diminuir o estresse”, analisa Silvio. “Quando se fala claramente sobre os assuntos, diminui significativamente e possibilidade de interpretações errôneas, geradoras de conflitos”, completa Gabriela, exemplificando: “Recentemente presenciei uma discussão de duas colegas de trabalho simplesmente porque uma delas “achou” que estavam falando mal dela”.

  •  Saiba dizer não

“Reconhecer os próprios limites e não aceitar mais do que se pode dar conta – workaholics (viciados em trabalho) e perfeccionista fazem muito isso. Delegar pode ser uma solução”, ensina a psicóloga.

  • Administre bem o tempo

“Fazer uso da agenda deve ser um hábito; também calcular o tempo das atividades e entre os deslocamentos, lembrando sempre que as pausas são necessárias e benéficas”, avalia Gabriela.

  •  Mantenha o ambiente limpo e organizado

“Quem sabe onde encontrar o que precisa não perde tempo procurando e não perde seus prazos por esse motivo. Trabalhar em um ambiente limpo e organizado é estimulante e produtivo, e saudável. A desordem é um grande causador de situações estressantes. Mesas com excesso de coisas, gavetas bagunçadas, documentos fora do arquivo, vários documentos no desktop, anotações em milhões de papeizinhos, são coisas que nos fazem perder tempo e dificulta o rendimento do trabalho”, ratifica a psicóloga.

  • Contribua com outros departamentos e pessoas

“Quanto mais isoladas estiverem as pessoas e departamentos, quanto menos se importarem uns com os outros, maior a chance de criar problemas e adversidades que não contribuem com ninguém”, observa o diretor da Alliance Coaching.

  •  Empresas são jogos em equipes, faça parte do time

“Jogue com alegria, com vontade de ganhar, mas, acima de tudo, coopere. A falta de cooperação de colegas de trabalho é uma fonte absolutamente desnecessária de muito estresse”, aponta Silvio.

  •  Procure fazer o que gosta, ou gostar do que faz

“Ainda costumamos relacionar trabalho a sacrifício, desprazer. Essa interpretação de trabalho por si só já nos prepara para uma semana estressante quando chega a segunda-feira. Quem gosta do que faz sente-se bem, o tempo passa mais rápido, o que contribui para a manutenção da saúde física e mental. Ora, muitos não têm o trabalho dos sonhos, certamente. Porém o que se deve perceber é se está contribuindo de alguma forma (mesmo sem se dar conta) para tornar o dia de trabalho ainda mais difícil. Investir em si mesmo é muito importante, por isso deve-se buscar um trabalho que proporcione realização pessoal. Se não está sendo possível no momento, cuide para que seja futuramente e, enquanto isso, procure fazer de forma que dê alegria, quem sabe modificando a forma de ver o que faz”, finaliza Gabriela.

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com